22/10/08

Envelhecer...

"A imortalidade que tantos procuram em elixires, só se atinge, quando deixamos um bocadinho de nós mesmos dentro dos outros."


O nosso primeiro instinto é não pensar no envelhecimento, na perda de capacidades, na dependência e na morte.

Nas primeiras décadas da vida não custa nada, até porque nos parece uma total impossibilidade que algum dia andemos por aí a titubear pelas ruas, presos a uma bengala. Nem sequer nos conseguimos imaginar a fazer as figuras tristes daqueles ridículos quarentões (que mais tarde passamos a encarar como uns jovens!) que puxam de uns óculos estranhos para lerem as letras pequeninas.
Aos poucos vamos ficando preocupados. São as palavras que se esquecem, os nomes que nos escapam da língua, os olhos que dão sinais de cansaço, e para tanta gente uma sensação de que os dias se repetem sem surpresas, nem paixão. E se deixarmos que estes sentimentos sejam substituídos pelo tédio e pela amargura, morremos em vida.
O problema de fundo é que nos convenceram de que a vida era uma espiral de sucesso ascendente. Que a Medicina tinha resposta para tudo. Mais tarde descobrimos, muitas vezes com revolta, que não passam de logros. A nossa existência termina inevitavelmente numa descida inclinada, e é preciso arte para a saber percorrer.
A certeza de que é a forma como vivemos que nos confere, ou não, o direito à eternidade, muda a forma como nos entregamos aos outros, e procuramos até ao último momento usar a sabedoria adquirida. E quando se envelhece com sentido custa, mas custa menos.

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